Quando era
criança, eu morava num castelo mágico. De facto, o meu pai era o rei e a minha
mãe era a reinha. Eu era uma princesinha com os cabelos pretos e compridos.
Linda, diziam. A minha mãe penteava-me cada manhã. Ela fazia-me sempre duas
tranças. Todas as miúdas do castelo invejavam-me . Mas eu não era feliz!
O meu pai
passava pouco tempo no castelo já que tinha que ir fazer a guerra a outros
reinados. Nessa altura costumava-se fazer assim!! Ele ia explorar outros
lugares e eu tinha inveja do meu primo que ia com ele.
O nosso
castelo era muito giro. Todavia, eu não gostava da vida lá.
Todos os
dias acordava cedo para aprender as coisas que uma princesa tinha de saber em
conformidade com o protocolo real: aprendia a coser, cozinhar, ter uma
boa gestão doméstica... Em conclusão, aprendia a ser a mulher perfeita para o
meu futuro marido, algum príncipe. Eram todas coisas que eu julgava imensamente
chatas, tristes e irritantes.
Porque eu
era uma princesa mas gostava das coisas que faziam os rapazes. Quero dizer, eu
desejava ir com o meu pai explorar outros reinados, conhecer outras gentes,
falar outras línguas, aprender a lutar na guerra.
Os moradores
do castelo olhavam para mim espantados quando passava com as calças do meu
primo em vez da minha saia incómoda. Ou quando jogava com a espada dele.
Porém, ele
não gostava da vida de cavaleiro que tinha que levar. Não queria salvar as
damas e também não casar com uma delas. Gostava da vida tranquila do
castelo e sabia cozinhar, coser, passar a ferro... Mas não podia fazer
nada disso em público!!
Os dois
concordávamos que eram costumes antigos e que tínhamos de mudar a situação.
Embora não soubéssemos como.
Tínhamos 15
anos quando tive uma ideia maravilhosa: trocar as nossas vidas por algum
tempo!!
- Olha,
Henrique! - eu disse- A próxima vez vou-te substituir na viagem com os
cavaleiros!!
Ele não
parecia muito surpreendido. Crescemos juntos e conhecíamo-nos muito bem. Éramos
como irmãos. Os pais dele morreram quando ele tinha dois anos e esteve sempre
connosco no castelo mágico.
- Eh pá!!
Mas como vais fazer para enganar todos??
- Henrique,
sabes porque este castelo é mágico?
- Não
sei. Ouvi alguma história mas achei sempre que era uma lenda fantástica.
- E não é
assim! É tudo verdade!!! No pátio azul há um azulejo mágico!! Só funciona uma
vez na vida e se o toca uma princesa de bom coração.
- Estás a
brincar, prima!!!
- Nem um
pouco!! Não tinha certeza mas encontrei o azulejo por acaso! Logo que o vi,
soube que era aquele ali. O meu coração levou-me até ele!
O
Henrique olhou para mim impressionado. Então, contei-lhe o que
tínhamos de fazer e ele aceitou. De seguida, foi ao pátio, toquei o azulejo e
pedi trocar só por um mês as nossas vidas. E foi assim!! Nós éramos ainda nós
mas os outros viam-nos trocados!!! Divinal!!
Após a nossa
transformação, eu parti para outros lugares com o meu pai e o meu primo ficou
no castelo com a minha mãe a fazer a vida que ele preferia.
Tudo estava
a correr bem. O meu pai estava contente e muito surpreendido porque "o
Henrique", de repente era o melhor soldado de todos!! Não acreditava!!
Porém, houve
mesmo um problema!! O mês passou mas não tínhamos acabado a expedição!!! Que
chatice!
Na
manhã do dia 32, quando acordei, não senti nada especial. Levantei-me,
lavei-me, vesti-me e saí da minha tenda. No momento compreendi que
era mesmo eu outra vez também para os outros!!
Os gritos de
admiração de todos alertaram o rei, meu pai. Na verdade, tive um bocado de
medo pela sua possível reação e comecei a tremer.
Ao início,
olhou para mim muito zangado. Perguntou muito sério:
- Tocaste o
azulejo mágico, não tocaste?
- Toquei...
- respondi cabisbaixa. E expliquei-lhe o acontecido com firmeza.
Ele disse: -
Eu já sabia que o Henrique não podia estar tão melhorado neste pouco tempo!
Minha filha querida, eu perdoo-te porque tu tens razão. Cada um tem de seguir o
seu coração e não umas regras antigas e injustas. Todavia, esta coisa não pode
acabar assim. De joelhos, faz favor!
Eu olhei
para ele espantada e obedeci. Era o meu pai mas sobretudo ele
era o meu rei.
Então, ele
tirou a sua espada da cinto enquanto os soldados faziam exclamações de
medo.
- Nomeo-te
"cavaleiro" do reinado porque demostraste que és os melhor dos meus
homens. Estou orgulhoso de ti!
E
foi mesmo desta forma que mudou não só a minha vida, também a vida dos
moradores do meu castelo mágico, desde esse momento, o castelo feliz.
Coimbra-8 dezembro 2019 - IBONE BUENO VICENTE
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